quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fogueira.

Guardo todas as promessas quebradas comigo, dentro de uma caixinha bem ornamentada dentro do meu peito. Eu sei que já deveria ter me desfeito de tudo, deveria ter jogado fora cada pedacinho de lembraça que eu tenho, mas se eu fizer isso é como se eu estivesse me desfazendo de você, como se finalmente não houvesse retorno nessa nossa estrada e eu não quero entregar você às chamas mesmo sabendo que você deve arder no fogo como fez comigo.
Eu tenho caminhado muito através dos vales e de todos esses pinheiros para saber que
esse  bosque é cheio de uma solidão repleta de pessoas, de uma angústia pintada por sorrisos falsos e por corações que batem no mesmo ritmo frio. Existem várias dimensões espalhadas por esse lugar, mundos particulares em que cada um se encaixa da sua maneira e eu na minha vou seguindo olhando as nuvens cinzentas desse inverno rigoroso.
Tenho tentado achar a toca do coelho, uma vala, buraco ou qualquer coisa que talvez me leve para algum lugar melhor, quem sabe uma Wonderland perdida no espaço e no tempo, mas do jeito que as coisas caminham talvez eu vá parar na merda de pântano que vai me engolir e terminar de estrangular as minhas palavras. Talvez eu já esteja nesse pântano.
Você sente a minha falta? Acho que não, na verdade nunca sentiu.
Vou bater a minha cabeça na parede até afogar tudo que lembra você, tudo que faz meu coração sentir pontadas de dor e tudo que rasga a minha garganta.
E eu queria tanto ter guardado o seu perfume! Ou uma blusa, quem sabe aquela sua jaqueta que eu tanto gostava, afinal, está tão frio,  ela iria me servir bem e eu não tenho seus braços para me esquentar de qualqer forma. Eu queria algo mais que lembrança ou uma foto inanimada e que só refelte a felicidade falsa que eu achava que tinha. Mas acho que pior que tudo isso é ainda guaradar o teu sorriso.
Preciso queimar tudo, está na hora de me livrar de você e deixar que tudo o que foi passe de uma vez e arda na fogueira que eu fiz coma  inha dor e raiva.
Adeus.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Ela.


Ela caminha entre as lembranças rasgadas no chão. Ela pisa sobre tudo, mistura, destrói, mas elas magicamente se unem novamente e tomam seus devidos lugares.
Ela foge, corre, tropeça, cai, mas levanta novamente e sai correndo do passado, do presente e só quer um futuro. As lembranças guardadas em sua cabeça só servem como tormento e tortura durante os dias que seguem a sua vida. É como se tudo fosse fogo, como se tudo queimasse o que há dentro e em volta.
Lágrimas aonde vocês estão? Ela quer chorar, ela precisa chorar, mas as lágrimas se prendem nos olhos querendo tornar tudo cada vez mais amargo. Botar tudo para fora seria uma boa saída, mas tudo se agarra com tentáculos pegajosos e sufoca o grito de socorro.
Vontade de arrancar a saudade, de sufocar o medo, de matar a angústia e de decaptar todos os pensamentos.
Ver todos os seus pensamentos, fotografias do seu passado, lembranças da sua vida, todos eles decorando o chão da sala de estar fazem com que de certa forma ela sinta dor, mas ao mesmo tempo fazem com que ela sinta uma vontade incontrolável de voltar no tempo, reviver tudo de novo, os mesmos sorrisos, os mesmos abraços, os mesmos beijos. Também a fazem querer fazer modificações, colocar flores onde não haviam, cor no que era preto e branco, ir aonde ela não foi, conhecer um mundo que ela não se permitiu conhecer, percorrer caminhos desconhecidos, sentir gostos doces com sabor de fruta madura e de boca molhada. Talvez tanta vontade seja o motivo de tanta dor.
Ela queria um final feliz, por mais que não fosse im final, ela queria que tivesse sido feliz, ou que pelo menos tivesse tido algum sentido, explicação, algo que preenchesse o espaço dessa interrogação gigante que até cega. Espaço grande e espaço vazio, uma incógnita que sopra furacões dentro da mente dela e que a faz rolar na cama de noite, de dia, de madrugada e até mesmo nos sonhos.
A garota perdeu a fé. Não a fé em Deus, porque ela sabe que se perder isso um dia, não lhe restará mais nada além de um mundo devastado e uma visão apocalíptica. Não, ela simplismente perdeu a fé em palavras e a velha história de ações dizem mais que palavras já não faz mais tanto sentido no contexto da vida conturbada da menina. Ela ouviu coisas e viu mais ainda e no entando nada nunca se encaixou e quando ela finalmente acreditou que o caminho era aquele, a estrada de tijolos amarelos sumiu como que por pó e ela se viu num redemoinho de confusão. Confusão essa que agora ela mesma causa e talvez ela mesma fosse o furacão.
Saber que ela é dona do próprio destino ela sabe, mas quem disse que facilita? Na verdade dificulta, ela se sente impotente e fica sempre achando que se omitiu. E lá vai ela de novo vestir a sua roupa de monstro dos próprios pesadelos e segue seu caminho de assombro pra atormentar a própria vida.
Coitada dela. Coitada da garota. Será que um dia ela vai saber escolher? Será que um dia ela vai saber quem é ou pra que veio pra esse mundo?
Bom, ela põe o melhor vestido que tem, aquele com flores coloridas e decide ir olhar o pôr do sol, porque ela sabe que ele sim é de verdade e sabe também que essas confusões logo logo irão tirar férias e depois de tudo ela vai rir por ter sido tão idiota. A menina vai crescer, aliás, ela já cresceu!
Quem é ela?
Ela sou eu.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Partida.



Já fazem 6 meses desde o funeral do Felipe, desde o dia em que eu sentei debaixo daquela árvore e do dia mais surreal da minha vida.
Quando escutei a voz do Felipe me chamando, de início pensei que estava ficando louca, pois eu sabia que a falta que eu sentia dele era tamanha que seria muito capaz de me causar insanidade, mas quanto mais eu escutava e pensava nele, mais a voz ia ficando clara e de repente eu consegui visualizar.  Era tão claro, tão iluminado, tão lindo e ao mesmo tempo tão familiar. Ele estava parado diante de mim, com os olhos desesperados e os braços abertos. Fiquei segundos olhando pra visão etérea do meu namorado, até que não me aguentei e sai correndo em sua direção para abraçá-lo, mas só o que consegui foi sentir algo gelado e perceber que eu tinha atrevessado direto por ele. Lembro dos olhares tristes que trocamos quando isso ocorreu. Mas para mim não importava, ele estava ali comigo, eu podia ouvir a sua voz e eu podia sentir seu cheiro perfumando todo o ambiente.
Conversamos por horas naquele dia, ele me contou como foi depois do acidente, como foi quando ele notou que tinha morrido vendo seu corpo preso no carro. Também me disse que havia estado comigo desde então, esperando o momento em que enfim eu pudesse ouvi-lo.
Agora que já haviam se passado seis meses, a visão do meu namorado fantasma deitado na minha cama com meus bichinhos de pelúcia já não era mais algo alarmante pra mim.
Felipe me fazia compania todas as tardes depois que eu chegava do colégio e perguntava sobre todo o meu dia. Era quase uma rotina pra mim, mas eu não me importava. Eu estava com ele, mesmo sem toca-lo, tê-lo ao meu lado e poder ver o seu lindo sorriso fazia com que eu me sentisse viva. Quando ele não estava, era como se um buraco se abrisse em mim e eu não pudesse mais respirar e a lembraça de que ele não estava vivo me assolava.
Minhas amigas viviam me dizendo que já era hora de eu deixar minha vida seguir em frente, talvez me apaixonar de novo. Claro que elas não sabiam que eu ainda tinha meu namorado/fantasma comigo e que não precisava de nada, não queria mais nada.
Apesar de toda essa segurança, um dia tivemos uma conversa que me atormentou durante dias. Estávamos sentados em um lugar escondido, no parque da cidade, conversando e a minha curiosidade falou mais alto:
" Amor, eu sei que todas as pessoas que morrem seguem um caminho, atravessam alguma ponte, vão para luz, eu não sei, mas você continua aqui. Não me entenda mal, mas por quê você não partiu de vez? Continua aqui comigo?"
" Bom Duda, eu tive essa opção, eu vi mãos e ouvi uma voz me chamando, mas eu precisava saber que você ia ficar bem, me garantir que tudo ia dar certo pra você e que eu poderia ir em paz."
Parei e pensei um pouco, refletindo.
"Bom, mas você já sabe que eu estou bem! Quero dizer, você sabe que eu não morri e me recuperei, e no entando você ainda está aqui."
Ele me olhou com um olhar de criança marota e disse:
" É eu sei, eu já deveria ter ido, meu lugar realmente não é aqui e eu sei bem disso e também já fui avisado!"
"Como assim avisado?"
"Bom, os poderes lá de cima (ele riu) me disseram que meu prazo de permanencia uma hora se esgotará e que se eu não me decidir por partir, bom eu vou ficar aqui pra sempre, vagando. Mas eu não me importo, eu estou com você."
Quando ouvi essas palavras me desesperei, tentei argumentar com ele, mas mesmo depois de morto, o Felipe continuava um teimosoe não me permitiu dizer nada.
Durmi mal várias noites, pensadno no que ele havia me dito, que ficaria vagando pela terra, porquê eu sabia que um dia eu partiria dessa vida.
Após dias e dias de tribulações e de pesadelos recorrentes eu decidi colocar um fim naquilo. Era uma tarde de segunda quando eu segui rumo á nossa praia favorita, onde nós demos nosso primeiro beijo. Assim que cheguei na praia, vi que ela estava vazia e fui em direção da areia e me sentei, esperando até que ele finalmente aparecesse. Em menos de 5 minutos eu senti seu cheiro e isso fez com que lágrimas rolassem de meus olhos, mas mesmo assim procurei a força que tinha resgatado dentro de mim nesses últimos dias.
"Amor, por que você está chorando? Duda olha pra mim!"
Respirei fundo e disse as palavras mais dolorosas da minha vida:
" Felipe, você precisa partir."
Nesse exato momento uma ventania começou na praia.
" Você não me quer mais? Você não me ama mais? Por que você quer que eu parta?!"
"Não meu amor, é exatamente o contrário. Eu te amo mais do que você pode imaginar e é por te amar tanto que estou te dizendo pra partir! Isso está sendo a coisa mais difícil que eu já fiz!"
Cada vez eu chorava mais.
"Eu não entendo, se me ama tanto, por quê quer que eu vá embora?"
Procurei forças pra dizer o que era necesário.
"Porque eu amo mais a você do que à minha necessidade de tê-lo, porque eu te amo mais do que a mim mesma. Eu preciso que você parta, porquê imaginar você vagando pela terra como uma alma aflita faz com que eu me sinta morta em vida. Eu quero que você siga o seu caminho de luz, porque pra mim é isso que você é, LUZ! Você foi a luz que iluminou a minha vida, você foi quem me ensinou a ser quem eu sou, que me fez me sentir viva todo esse tempo. Você foi um presente que Deus me deu e que agora Ele está requisitando de volta e eu preciso que você volte pra Ele. Eu te amo demais e meu amor por você é tamanho que eu abro mão de tê-lo comigo!"
As minhas palavras já não saiam com facilidade então eu deixei que o choro me invadisse. Quando finalmente olhei pra ele vi que ao mesmo tempo que ele estava triste, ele mostrava uma serenidade e um amor que eu jamais tinha visto. Enfim ele disse:
" Eu não havia partido porquê precisava ter certeza que você ficaria bem e que não precisaria mais de mim. Agora eu vejo que esse dia chegou, mas eu só posso partir definitivamente se você me der uma coisa em troca."
Me senti confusa, mas me forcei a dizer.
" O que?"
"Eu quero a sua dor. Eu disse que partiria só quando soubesse que ficaria bem, para isso eu quero levar a sua dor comigo. Quero ter a certeza que você seguirá em frente com a sua vida, que você não irá se prender às lembranças que tivemos e que se deixará viver. Eduarada, meu amor, você vai ser sempre o único amor da minha vida, mas eu fui apenas um dos amores da sua. Não quero que me esqueça, quero somente que me prometa que vai seguir em frente e ser feliz, porque é disso que eu preciso pra ser feliz e deixar você sem me sentir aflito ou como se tivesse deixado uma parte incompleta de mim."
Naquele momento eu me senti a pessoa mais amada do mundo e soube que jamais perderia aquele amor, que ele seria sempre meu, que ele era tatuagem no meu coração, gravada com as nossas almas. Não sei como consegui, mas disse.
"Eu prometo!"
Naquele momento,alguém no céu compreendeu o tamanho do nosso amor e nos permitiu um último momento verdadeiramente juntos.
Felipe seguiu andando até mim e finalmente conseguiu me envolver em seus braços e me deu um beijo como jamais ele havia me dado antes, algo inesplicável, definitivamente divino. Aquela praia que havia sido cenário do nosso primeiro beijo era agora o cenário do último.
Quando ele se afastou, sorriu pra mim, uma última vez, e então a praia inteira se iluminou, com uma luz tão linda que parecia ouro líquido e em segundos não havia mais ninguém. A última coisa que eu pude ouvir foi "Estarei sempre com você." .
Hoje eu estou aqui, sentada nessa mesma praia. Não me sinto triste, não me sinto sozinha, sinto me simplismente abençoada por saber das opotunidades que tive e por saber que tive uma pessoa tão marvilhosa ao meu lado e que meu amor era mais forte do que um dia pude imaginar. Me sinto orgulhosa. Sei que não vou me apaixonar tão cedo, porquê um amor assim deixa marcas, mas também sei que isso irá acontecer um dia. Não será forte nem tão complexo quanto o meu com o Felipe, mas nenhum amor é igual ao outro de qualquer maneira e eu sei que quando essa vida terminar eu vou encontrá-lo me esperando do outro lado.
Aprendi que almas gêmeas nem sempre vivem uma vida inteira juntas.
Levanto-me, limpo a areia do meu jeans e sigo o caminho de volta e sinto aquele perfume que sempre vai ser o melhor pra mim.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Presença.


Me vejo sentada em frente ao espelho. Minha mãe escova meus cabelos, ela ainda quer que eu evite muitos movimentos por causa do acidente e graças á isso ultimamente eu não tenho feito quase nada. Estou vestida de preto, da cabeça aos pés. Sempre me perguntei porque essa havia sido sempre a cor escolhida para funerais. Hoje eu sei a resposta. Porque é assim que o coração de quem perde alguém querido fica, completamente negro.
Felipe sempre odiou preto, sempre dizia " Você parece mais velha com essa cor, porque não põe algo azul ou quem sabe verde?". Hoje, mais do que nunca, eu também odeio preto.
Mamãe prende meu cabelo num rabo de cavalo alto e bem feito. Sempre achei meus cabelos lindos, mas hoje não me importo, nem ao menos os vejo.
Antes de partir para o funeral eu peço para que ela me deixe sozinha algum tempo. Hesitante ela sai do quarto com o seu olhar triste que agora é quase uma moldura em seu rosto. Mais uma coisa que eu deixei de notar ou talvez de me importar. Egoísmo? Não, somente não me sinto mais presente nesse mundo, é como se a minha vida tivesse tido um fim no dia daquele maldito acidente!

Acidente...
Será mesmo que se pode chamar de acidente um motorista bêbado, viciado em metanfetamina que estava tão completamente doido que não conseguia ver a pista em sua frente, invadio a contramão e levou meu namorado de mim graças ao seu vício infeliz? Não, eu não chamo assim. Eu chamo de assassinato, de maldade, de doença, do que eu for capaz de pensar, menos acidente.
Deito em minha cama e me deixo chorar um pouco. Olho para os retratos, nossas fotos juntos espalhadas pelo meu quarto. Lembranças de um tempo que agora parece tão distante.
Enfim, eu sei que está na hora de ir. Pego minhas muletas, que me acompanham para todo lugar nesses útimos dias, e sigo rumo a porta.
Não digo nada durante o percurso. Simplismente olho através da janela do carro. Agora tudo me lembra ele. O campo onde costumávamos ler um para o outro, a quadra onde ele tentava me ensinar a jogar futebol e lá longe eu avistei a árvore com as inicias de nosso nome que ele fez questão de gravar, pois dizia que um dia iria querer mostrar aos nossos filhos. Foram tantos os planos interrompidos.
Finalmente chegamos. Mal saio do carro e já percebo todos os olhos em mim. Não preciso ter poderes especias para saber quais são os pensamentos de todos: "Nossa ela deve estar arrasada", "Coitada, perder um namorado assim tão jovem" "Eles deviam ter tantos planos". A minha vontade é de sair correndo desse lugar, mas eu sei como Felipe se sentiria se eu o fizesse, então eu tento me mater forte em meio a tudo isso.
Recebo um abraço caloroso de minha sogra. Ela sempre foi uma das pessoas mais amáveis que conheci e mesmo com tudo o que estava passando ela ainda foi boa o bastante para estar todo o tempo possivel comigo no hospital. Assim que sai de lá, juntei as forças que tinha e ajudei em tudo que pude para o funeral e ela é grata a mim por isso e eu sou grata a ela por tudo que  já fez por mim.
Enfim a cerimônia começa.
Eu sempre soube que o Felipe não iria querer uma cerimônia formal e chata. Na verdade ele tinha me dito uma vez, mas não deixei que ele prolongasse com o assunto porque me desesperou a simples idéia de perdê-lo. Sinto uma pontada no coração quando percebo o que de fato aconteceu.
Apesar de tudo me recordo da música que ele disse que gostaria que tocasse no dia. Minha sogra hesitou um pouco quando lhe disse sobre a idéia, mas enfim aceitou, sabendo que era isso o ele queria e que era a última coisa que podeia fazer por ele.
Então começa a tocar ao fundo, levemente, Patience do Gun's. A gente ouvia muito essa música durante nossos fim de semanas na praia.
E de repente era como se ele estivesse ali comigo, senti seu cheiro, seu abraço, seu calor me envolvendo, seus lábios nos meus.
E foi aí que eu deixei de notar o que acontecia a minha volta. Deixei que a música me levasse para junto dele, do jeito que sempre devíamos ter ficado, JUNTOS.
Volteir para a realidade assim que foi decidida que já era a hora de seguir para o cemitério.
Todos seguimos juntos, todos marchando como soldados que haviam perdido uma guerra. Assim que vi a terra cobrindo o caixão e tive consciência de que ali estava o corpo daquele que tanto amava, que jamais o veria de novo, veria seus cabelos loiros, seu olhar doce, seu bronzeado. Que todo o nosso futuro estava destruído, que tudo foi perdido, não me aguentei e sai correndo. Claro que ninguém tentou me segurar, eles sabiam que eu precisava disso.
E aqui estou eu, sentada embaixo de uma árvore. Choro tudo o que posso. Sinto minha alma sangrar, meu peito se dilacerar. Quero morrer, preciso morrer, sumir, me esconder. Só quero esquecer!
Enquanto choro, sinto algo familiar, um cheiro familiare é então que eu escuto...
" Eduarda? Eduarda diga que pode me ouvir!!"

CONTINUA...








terça-feira, 27 de julho de 2010

Ruptura


Ele costumava me fazer rir. Na verdade era uma coisa que eu fazia constantemente quando estava ao seu lado.
Nós éramos bem diferentes um do outro e isso é o que nos fazia dar certo.
Ele era o garoto descolado, totalmente criança que fazia graça de praticamente tudo á sua volta, que olhava nos meus olhos de uma maneira tão infantil e animadora que me deixava tonta. Quando estávamos juntos era impossível não esquecer dos problemas, parecia que como por mágica eles desapareciam, viravam fumaça na minha mente ou se perdiam quando ele abria aquele sorriso encantador pra mim e dizia '' Hey minha pequena, esquece tudo e vem aqui. Eu já não cansei de te dizer sempre que tudo vai se resolver? Você sempre resolve tudo baixinha. "  e em seguida eu já estava rindo, porque ele tinha razão, eu resolvia, mas não porque eu era boa o bastante e sim porque ele me dava forças pra isso.
Eu sempre fui a garota responsável, a menina madura demais pra idade que tinha, a que tomava conta de todos e tentava resolver todos os problemas de alguma maneira humanamente capaz. Na maioria das vezes eu acabava com uma dor de cabeça enorme e um monte de gente chata no meu pé querendo que eu fosse fazer algum milagre em sua vida. Sempre fui assim e não poderia ser diferente ao lado do Felipe. Era muito difícil ele aparecer triste ou algo relacionado, mas eu sempre estava pronta pra ajudá-lo e lhe dar força, e além disso eu vivia tendo que controlar as atitudes infantis do meu namorado, que apesar de me fazerem rir , eram um tanto quanto irresponsáveis.
Nosso namoro era uma balança, cada um a mantinha em estado de equiíbrio.
Até que aconteceu. A balança quebrou e uma metade ficou faltando e ai, como que por feitiço, tudo ficou sem graça e sem cor.
Era só mais uma viagem de feriado. Costumávamos fazer isso sempre que possível, nós dois adorávamos o clima de praia e sol e Felipe finalmente tinha decidido me ensinar a surfar. Ele sempre dizia "Você é muito resposável e certinha meu amor, nunca vai conseguir fazer o que eu faço na prancha.", mas eu insisti tanto que ele resolveu tentar.
Estávamos felizes, conversando e escutando música. No CD player do carro a música do momento era  I Don't Want To Miss A Thing do Aerosmith e nós dois cantávamos que nem dois loucos e riamos sem ao menos saber porque, até que o inesperado aconteceu. O CD player mudou de música e era Roslyn do Bon Iver & St. Vincent, uma música que eu amava apesar de achar triste. Mas eu não tive tempo de curtir a minha música.
De repente tudo se tornou negro e eu já não sabia mais quem eu era ou onde estava, eu só sentia que estava sendo puxada para a inconsciência.
Só me lembro de começar a escutar as vozes ao fundo e de conseguir encontrar o jeito certo de abrir os olhos.
O quarto era brando demais, iluminado demais, calmo, mas meio frio e possuía um cheiro que me dava náuseas. Eu sabia perfeitamente onde estava. HOSPITAL.
Tentei me sentar, mas os tubos espalhados sobre meu corpo não permitiram. Mamãe estava rapidamente ao meu lado.
"Querida você está fraca, não tente se movimentar muito. Como se sente?"
Com muito esforço eu encontrei o caminho da minha fala.
" Tonta e enjoada. O que houve?"
" O carro onde você e o Felipe estavam foi atingido na curva por um caminhão. Você perdeu muito sangue filha, procure relaxar."
Relaxar? Claro.
" Onde está o Felipe?"
Minha mãe desviou o olhar e se fez silêncio. Não era necessário palavra alguma, eu não precisava de nada para entender o que havia se passado. Olhei pro teto sem nada ver de fato e esperei até que a minha visão ficasse turva pelas lágrimas. Um lado de minha balçança tinha se ido, metade mim ficara na estrada, perdida no meio do caminho.
Mamãe segurava firme a minha mão enquanto esperava que a onda de soluços e lágrimas se acalmassem mas quando ela percebeu que isso não ia acontecer, resolver dizer:
" O caminhão atingiu diretamente o lado onde o Felipe estava, ele não resistiu, morreu antes mesmo de chegar ao hospital."
Por que ela ainda estava falando? Eu não queria ouvir, não havia nada que ela dissesse que fosse melhorar, na verdade só ia piorar. Ele havia ido, havia me deixado e eu não sabia como ia ser dali para frente. Um abismo de mostrava diante de minhas vistas. Se ele fosse real talvez eu me jogasse dele.
" Filha, você tem que ser forte. Sabe que era isso que ele esperaria de você!"
Ela tinha razão, ele esperaria que eu fosse  forte. Mas eu sempre havia sido forte, será que dessa vez eu não tinha o direito de enfraquecer? Lembrei-me da letra de Roslyn, a útltima coisa que eu havia ouvido naquele carro "
Bones blood and teeth erode, with every crashing node" (Ossos, sangue e dentes desgastados a cada ligação rompida). Resumindo, era isso agora, ossos e sangue e uma ligação rompida. A minha ligação.
" Você precisa saber que o funeral será na quinta. O médico disse que você provavelmente terá alta até lá. Eu sei que você ia querer ir."
É claro que eu ia querer ir. Era meu namordo que ia ser enterrado!
Sequei minhas lágrimas no lençol da cama e olhei para minha mãe, ela parecia abatida.
"Mamãe pode me deixar um pouco? Eu preciso mesmo ficar sozinha e você parece cansada. Por que não vai pra casa, tome um banho, durma e depois se quiser, volte."
Ela me olhou um tanto cautelosa, mas entendeu minha necessidade.
" Tudo bem, eu preciso mesmo de um pouco de descanso. Eu volto á noite está bem?"
Me olhou mais uma vez e acrescentou.
"Você sabe que estou com você, sempre que precisar. Eu te amo filha."
Me deu um beijo na testa e se foi.
Assim que a porta se fechou em suas costas as lágrimas voltaram ao meu rosto. Não um jorro descontrolado como antes, elas simplesmente saiam, era natural.
Fechei os olhos  e deite-me novamente.
Quinta- feira.
Funeral.
Adeus.
Felipe.
Nunca gostei de funerais...como se alguém pudesse gostar.
Então enquando pensava na minha futura quinta-feira, deixei que o torpor tomasse conta e me vi de novo nos braços da inconsciência.

CONTINUA...

sábado, 5 de junho de 2010

Candy.


Tudo que é muito doce sempre acaba enjoando, chega sempre o ponto em que você não quer mais e seu estômago começa a embrulhar.
O amor ás vezes se parece com um doce. Um chocolate ao leite delicioso e estremamente adocicado, que no começo, ao ser degustado causa uma sensação de prazer maravilhosa, mas no decorrer do tempo ele vai perdendo a graça até que no fim você já está enjoada de tanta doçura e tão cedo não vai querer come-lo  novamente.
A graça das coisas não dura pra sempre, tudo que não é forte o bastante sempre se desgasta, sempre perde o charme. Relacionamentos, amizades, palavras, sentimentos, sonhos... as vezes até os dias te enjoam.
Aquilo do incerto, do não saber, do não te conhecer me enjoou. Me enjoou a mesmisse do dia-a-dia, do mesmo caminho, das mesmas pessoas, dos mesmos sorrisos falsos, das risadas forçadas, da sua falta de sexy appeal, da sua falta de sexy and drive (como diria Cazuza).
Onde foi parar? Cadê aquilo que tanto eu gostava? Sumiu?
Pois é, acho que não, acho que eu só enjooei. Meu chocolate está no fim e eu já não o aguento mais.
Preciso de algo novo. Eu quero me sentir boba novamente, quero me sentir nervosa com coisas bestas, quero ver poesias pintadas nas nuvens pink do meu céu que agora é tão acinzentado, quero voar com os pés no chão, quero o gosto da beleza do sol dentro de mim, quero minhas borboletas coloridas voando e me fazendo sorrir. Quero o melhor de todos os mundos combinados dentro do meu.
Não vou mais escolher um único chocolate, dessa vez eu vou comprar de todos os tipos, gostos, sabores e cores. Vou experimentar de tudo, sentir cada sensação.
Assim eu descubro aquele que não perde o sabor nunca.

sábado, 3 de abril de 2010

Dentro de mim...


Acho que me encontro parada no jardim, na soleira da minha porta, enquando a chuva cai, fraca, tão sem forças quanto eu. Mas mesmo fraca ela me molha e aos poucos meus cabelos vão ficando úmidos, embaraçados...não me importo.
Me enterrei aqui, junto à terra molhada, as roseiras e a minha grama verde. Sentada aqui eu penso, olho para o céu sem ver algo concreto de verdade, acho que vejo somente a minha solidão estampada ao lado da solidão da Lua. Lua bela, imponente, brilhante, solitátia. Triste não é? Algo tão belo, tão encantador e tão solitário. Acredito que sei como ela se sente
.
Observando mais as belezas do céu eu vejo as estrelas. Elas me lembram algo que há tempos eu não contemplo...o brilho dos teus olhos. Elas cintilam no céu assim como os teus olhos cintilavam de encontro ao brilho de prata dos meus. Perdi isso. Também é triste.
Caminho pelas ruas sem destino traçado, apenas ando e ando, minhas mãos nos bolsos, vento nos meus cabelos, aroma das flores de outono me invadem e acalmam um pouco meu coração agora tão inquieto.
Fecho os meus olhos, respiro profundamente e tento tirar da natureza toda a vida que eu desejo que haja dentro de mim.
Lembranças se abrem dentro de mim e tomam conta do espaço que há.  Sorrisos ecoam do passado recente, perfumes surgem como algo intocado pela  distância e tempo passado, a felicidade se impõe mostrando a grandeza que tinha. Tormento, tormento e mais tormento. Livrai-me de tudo, libertai-me do que me consome pouco a pouco.
Mantenho a calma. Percebo que na verdade nada me consome, são só lembranças de algum tempo atrás e que vistas com carinho não doem, simplismente mexem com o meu interior e isso porque me fizeram bem e eu sinto saudades. Saudade não é algo tão ruim como dizem, só sinto saudade do que amei, ou AMO! É eu amo. Te amo!
Caminho de volta pra casa, vou refugiar-me no calor da minha cama, quem sabe meu travesseiro possa me contar algo do passado e me fazer sorrir, ou até mesmo chorar, mas não de dor, simplismente de saudade.
Meu coração reconforta-se junto aos lençóis, mas sente falta do calor do teu abraço. Não sinta-se triste ao ouvir isso meu caro príncipe, se sinto a sua falta é porque me fez bem, não é por não estar mais aqui que o amo menos. Eu te deixei partir e deixaria quantas vezes fosse necessário para que você fosse feliz. Queria que você fosse egoísta o bastante pra  ficar ao meu lado mesmo sabendo que poderia não ser o melhor, mas se te faltam forças pra isso, eu entendo.
Assim como a fraca chuva que aparenta estar sem forças e ganha a imponência de um temporal arrasador, eu me ergo e sigo em frente.
E o buraco com borboletas negras que existe dentro de mim?
Bom, borboletas só vivem 24 horas...